Se você acompanha as notícias da economia mundial, provavelmente já ouviu falar sobre a Nova Rota da Seda ou, em seu nome original, “One Belt, One Road” (Um Cinturão, Uma Rota).
Porém, se você não faz a menor ideia do que estamos falando, isso não é um problema. Comecemos do início.
O que foi a Rota da Seda?
Anteriormente, quando a maior parte do comércio internacional se resumia às especiarias, as rotas que carregavam os produtos tinham suma importância.
Assim sendo, essas rotas eram passagens que interligavam o Oriente e a Europa, por meio do Sul da Ásia. Ainda mais, de acordo com historiadores, caravanas antigas já seguiam esses caminhos desde 200 a. C..
O nome foi dado, pois, na época, os chineses descobriram como utilizar os bichos-da-seda de forma a produzir o tecido. Posteriormente, a China descobriu na Europa um mercado consumidor para a seda, que estava disposto a pagar muito caro pelo produto.
Desse modo, as rotas da seda movimentavam muito dinheiro entre especiarias diversas e, principalmente, produtos de luxo como a seda. Eventualmente, as rotas foram um fator muito relevante para as grandes civilizações que começaram a se formar neste período.
Rota do sul (azul) e rota do norte (vermelho)
As rotas da seda tiveram seu enfraquecimento causado por diversos motivos. Entre eles destacam-se o fim do império mongol e o início das grandes expedições, que carregavam mercadorias por vias marítimas.
O que é a Nova Rota da Seda?
Antes de mais nada, como pudemos perceber nos últimos séculos, a China sempre esteve muito presente no comércio internacional. Em 2020, as coisas não são diferentes.
Atualmente, a China é o maior exportador do mundo e em questão de importações só perde para os Estados Unidos. Com isso, os planos econômicos da China têm atingido níveis mais ambiciosos. O maior deles é o One Belt, One Road (Um Cinturão, Uma Rota).
Dessa forma, o plano foi apresentado pelo governo chinês em 2013, quando Xi Jiping prometeu uma série de investimentos em transporte e infraestrutura. Esses investimentos seriam feitos tanto de forma terrestre (cinturão econômico), quanto de forma marítima (rota marítima).
O trajeto terrestre envolveria:
- Ásia
- Europa
- África
- Oriente Médio
Por outro lado, o projeto marítimo visaria:
- Oceano Pacífico
- Oceano Índico
- Mar Mediterrâneo
Vermelho: Cinturão econômico terrestre
Azul: Rota marítima
Desse modo, o projeto consiste em centenas de milhões de empréstimos, investimentos e subsídios em infraestrutura que a China pretendia realizar em nesses países.
Com isso, a China poderia exercer, além de grande influência econômica nesses países, uma influência ainda maior no comércio internacional. E, é claro, uma larga influência geopolítica, tendo em vista que o interesse desses países em receber investimentos pode afetar suas decisões políticas.
O projeto está ameaçado pelo coronavírus?
Atualmente, com a pandemia de coronavírus no mundo, muitas pessoas insistem que a COVID-19 foi benéfica para a economia chinesa — que, até o momento, é uma das únicas a apresentar crescimento em 2020.
Por outro lado, alguns números mostram o contrário. De acordo com a RWR Advisor, desde 2013 a China já emprestou US$ 461 milhões para os países envolvidos no projeto. Hoje, em reais, o valor é de 2,491 bilhões.
Com isso, um grande problema se apresenta: a maior parte destes países que contraíram empréstimos, subsídios e financiamentos da China são países pobres.
Juntamente com a pandemia de coronavírus, o mundo se encontrou em dificuldades financeiras. Consequentemente, os países precisam utilizar suas finanças para ações emergenciais, como o auxílio brasileiro.
Diante disso, países como Paquistão, Quirguistão e muitos outros envolvidos no plano chinês já pediram ao governo de Xi Jiping que perdoe a dívida ou, pelo menos, adie o pagamento sem um largo aumento de juros.
Ainda mais, o G20, grupo do qual a China participa, já permitiu que 73 países adiassem o pagamento da dívida sem que os juros crescessem nesse meio tempo.
Como resultado, a China possui dois caminhos:
- A princípio, aguardar o pagamento destes países e adiar a conclusão da Nova Rota da Seda, cedendo às críticas daqueles que, dentro do próprio governo chinês, discordaram do plano.
- Por outro lado, cobrar estes países, correndo risco de maiores repressivas internacionais, além do risco de enfraquecer sua relação diplomáticas com eles, o que causaria danos às intenções do projeto..