Depois de uma grande repercussão na mídia sobre a crise do Chile, é bem provável que você esteja se perguntando, como o Chile, sendo o país mais desenvolvido do continente está em chamas?
Os protestos populares que começaram em meados de outubro e se estendem colocaram a crise chilena em evidência. Hoje, o BE vai te contar um pouco mais sobre os motivos dos protestos e porque eles eram previsíveis há algum tempo.
Em primeiro lugar, é preciso entender que o Chile, assim como o Brasil, possui uma história com regimes militares autoritários.
Para entender melhor, a ditadura de Augusto Pinochet entre 1973 e 1990 é um período de importantes mudanças sociais, econômicas e políticas do Chile. Logo após derrubar o governo eleito de Salvador Allende, do Partido Socialista do Chile, Pinochet tomou o poder.
A crise econômica do Chile no início da década de 70 foi um dos impulsos utilizados pelo general do exército chileno para assumir o lugar do antigo presidente em 1973. A partir disto, Pinochet ficou reconhecido por perseguir opositores, desmembrar partidos políticos e atacar instituições democráticas.
Pinochet também ficou famoso por assassinar os que fossem contrários ao regime militar do Chile usando… helicópteros para arremessar os opositores. Estes eram os “voos da morte”.
Como acabou a ditadura chilena?
No fim da década de 80, uma frente comunista tentava matar Augusto Pinochet, sem sucesso. Como resultado, o então presidente ordenou uma das mais fortes ondas repressivas da ditadura, assassinando dezenas de opositores.
O escândalo das mortes rendeu demissões dentro do comando de Pinochet, o que enfraqueceu sua base política.
Neste ponto, a oposição já se organizava em uma frente democrática, no intuito de destituir a ditadura e redemocratizar o país. Além disso, as constantes crises econômicas da ditadura militar causavam revolta no povo chileno.
Em 1988 Pinochet admitiu derrota em um referendo popular que clamava pela instauração de uma nova democracia no Chile.
Mesmo admitindo a derrota, o general tomou medidas para que seu plano econômico e a nova constituição que ele elaborara continuassem válidos no país.
Logo após o fim do militarismo, o Chile foi de uma ditadura para um dos países exemplos em democracia no mundo, e tentando corrigir erros do regime militar, a liberdade se tornou a palavra em evidência no país.
A liberdade de imprensa, social, política e econômica. Estes fatores juntos se tornaram combustível para o avanço econômico do Chile.
Dessa forma, o povo chileno se deslumbrou com o aumento de possibilidades com a nova abertura ao comércio exterior. Outra vantagem econômica para o Chile veio nos anos 2000, quando todo o mundo começava a experimentar uma alta no comércio de commodities.
Ainda mais, a cartilha do governo de manter uma forte responsabilidade fiscal foi levada muito a sério. Mesmo presidentes de centro-esquerda se comprometeram a equilibrar as contas públicas.
A responsabilidade fiscal, o privilégio das commodities e a forte agenda de democracia levaram ao Chile inúmeros investidores internacionais, que contribuíram para a estabilidade do país.
Sendo assim, no início dos anos 2000, a renda per capta do Chile era de 4.463 dólares. Em 2016, o número chegou a 16 mil dólares. A porcentagem de chilenos vivendo abaixo da linha da pobreza (em situação de miséria) caiu de 45,1% para 11,5%.
Além disso, o Chile ocupa o 59º lugar na lista de países com facilidade para fazer negócios. O Brasil, atualmente, está na 124° posição.
Como resultado, o Chile se tornou o primeiro caso de sucesso da América do Sul. Com isso, também foi o primeiro país do continente a ingressas na tão desejada
Infelizmente, o Chile ainda é um país muito desigual.
Acima de tudo, é preciso entender que a desigualdade pode acontecer mesmo com a melhora econômica. É preciso analisar detalhadamente e separadamente os dois fatores.
Mesmo com o bom desempenho da economia Chilena, o 1% mais rico da população ainda concentra 26,5% da riqueza do país. Por outro lado, 50% das famílias de menor renda concentram apenas 2,1% desta riqueza.
Além disso, o salário mínimo atual no país é de 301 mil pesos (algo em torno de 2.200 reais ao mês). No entanto, alguns benefícios trabalhistas não existem no Chile. As férias são de 15 dias e o 13° salário não existe.
O custo de vida no Chile também não é barato. Santiago é a capital mais cara de se morar na América do Sul, ultrapassando grandes centros como Buenos Aires e Brasília. Por outro lado, a aposentadoria chilena também é enxuta.
Com o alto custo de vida, a grande disparidade social e a falta de políticas públicas, a crise no Chile se tornou inevitável. A infelicidade e o desagrado da população já vinham se arrastando há algum tempo.
Em meados de outubro o atual presidente, Sebastián Piñera, anunciou um aumento na tarifa do metrô. Este foi o querosene que a faísca da sociedade chilena precisava.
Logo após o anúncio, estudantes, trabalhadores e pessoas de todas as classes sociais e idades estavam nas ruas.
Como a tarifa do metrô se tornou algo gigante?

Os protestos se escalaram para outras demandas. A tarifa do metrô se tornou uma gota d’água num mar de reclamações. As demandas vão de reformas na saúde e mudanças no sistema educacional até maior respeito com povos indígenas chilenos.
exige uma nova constituição. Eles alegam que a constituição atual do Chile (aquela, lá dá época do Pinochet) não supre mais as necessidades atuais do país.
A nova constituição deve remodelar a previdência, dar mais atenção à educação do país e reduzir a desigualdade de riquezas.
Do mesmo modo, os cidadãos pedem que a nova legislação seja mais justa com os tributos cobrados. Atualmente, a taxa do Imposto de Renda chileno é de aproximadamente 45%.
E agora, Piñera?
De acordo com Bachelet, é necessário que o governo chileno trabalhe com a população. Além disso, por cuidar da área relativa a direitos humanos, a ex-presidente defende que Piñera tente o diálogo.
Para complementar nossa matéria, vamos deixar um vídeo para que você compreender melhor esse acontecimento de um ponto de vista dos chilenos.